As aulas nas escolas já haviam começado há algum tempo e Ren finalmente chegava à nova cidade onde viveria os próximos dois anos de sua vida escolar.
Ele seria um novo aluno transferido e estava se mudando para a cidade onde ficava sua nova escola.
Ren subia as escadas rangentes de seu novo apartamento carregando suas malas pesadas na mão e uma mochila nas costas.
A porta rangiu quando foi aberta e o cheiro do mofo foi o primeiro a dar as boas-vindas. A maçaneta fria mostrava que o lugar não recebia uma visita há muito tempo.
— Liberdade! — As malas caíram pesadas no chão enquanto ele exclamava com alegria. Era como se libertar de uma prisão.
— É um muquifo pequeno, pobre e caindo aos pedaços, mas é meu… Vai ser bom pra ter um pouco de paz.
(Spoiler: não vai)
Com cuidado ele começou a retirar suas coisas das malas e guardar onde devia.
As poucas roupas foram para o guarda-roupa.
As prateleiras, tortas de tantos livros de ciências, empurraram os livros que ainda sobraram para debaixo da cama.
…
Com tudo finalmente organizado, o novo morador começou a explorar a casa para se adaptar melhor.
Conheceu a cozinha, o quarto e o banheiro minúsculo. Visitou também o corredor bizarro que se estendia desde a escada de entrada até a última casa nos fundos.
Era bisonho o suficiente para um pequeno arrepio percorrer a coluna de Ren.
"Parece filme de terror. Credo" Pensou escondendo seu medo em uma poker face.
— Bem, acho uma boa dar uma volta e explorar a vizinhança…
Com a decisão tomada, a chave selou a porta e novamente o apartamento estava vazio.
Com aquele cubículo habitável vazio de novo, algo começou a se materializar do chão.
Uma figura estranha coberta por um lençol encardido e sujo.
Parecia uma criança brincando de fantasma. Claro, se a criança tivesse sido esquecida em um porão por 30 anos.
Apesar disso, ela emanava uma aura fria e sombria.
— Hmph… Então chegou mais um otário para eu assustar. — Murmurou com uma espécie de desdém.
— Vou fazer isso rápido… assustar, gritar, amaldiçoar. O básico de sempre.
A criatura nem sequer pisava na luz. Preferia o canto mais escuro do quarto, exalando uma aura gélida e sombria, digna de um filme de terror barato às três da manhã.
Mas aí…
— Hmm… será que tem comida?
A vibe demoníaca quebrou totalmente.
A figura começou a flutuar com a barra do lençol a poucos centímetros do chão.
Sua rota? Direto para geladeira.
Puxou a porta da geladeira com destreza como se fosse sua e mergulhou lá dentro com os olhos famintos.
— Aff que lugar deprimente… — Reclamou — Ah, mas tem pudim. É meu agora hihi.
De repente, a entidade assustadora mais parecia um gato faminto revirando um saco de petiscos do que qualquer outra coisa do além.
…
Horas se passaram e um ranger surgiu vindo da escada.
— Merda! Ele tá chegando…
Em pânico, ela organizou a cozinha com sua telecinese. Embalagens e farelos voaram para o lixo e a geladeira foi fechada numa precisão militar.
Já a criatura… Se enfiou embaixo da cama. Junto dos livros de ciência.
Parece realmente uma criança fugindo da bronca.
Ren entrou sem desconfiar de nada. Não percebeu nada errado. Apenas pegou uma toalha, foi até o banheiro e ligou o chuveiro.
Do rodapé da cama a criatura conseguia ver tudo. Conseguia ver até demais.
Todo o movimento e até mesmo o silêncio eram observados com cuidado… Ela observou até demais…
Quando Ren saiu do banho sem nem mesmo uma toalha. Totalmente nu. Ela quase soltou um grito. Foi necessário enfiar metade do cobertor encardido para não berrar de surpresa.
Mas isso não era o suficiente para ela evitar corar igual pimenta por trás daquele pano.
"Eu não vi nada… Não era nada demais…" Pensou tentando se convencer dessa mentira.