"A vida é uma piada."
Essa foi a última e patética reflexão de Rainbow. Ele não morreu em uma explosão de glória, salvando uma cidade ou desafiando o destino. Seu destino foi selado por um pequeno e inocente Conguito, que decidiu entalar em sua garganta no momento mais inoportuno. Seus olhos se reviraram, o mundo escureceu e, em um piscar de olhos, ele se viu flutuando em um espaço vazio e branco, de frente para a figura de um homem que parecia ter a idade que quisesse, vestindo um simples terno branco.
"Tenho muitas perguntas," Rainbow disse, sua voz soando estranhamente calma. "Mas a principal é: onde estão os outros? A luz no fim do túnel? A sala de julgamento?"
O homem, que Rainbow instintivamente soube que era Deus, levantou uma sobrancelha e um sorriso divertido se formou em seus lábios. "Cenários clichês para reencarnação. Você sabe, a gente tenta inovar de vez em quando."
"Inovador foi morrer engasgado com um doce. Isso é um novo nível de constrangimento pós-morte."
Deus riu, um som que ecoou pelo vazio. "Concordo. Não é todo dia que vejo uma alma entrar na fila por um motivo tão inusitado." Ele fez um gesto com a mão, e um tablet holográfico apareceu em seu colo. "Mas é exatamente por isso que você está aqui. Você não se encaixa no padrão. Perfeito para o meu novo projeto."
Rainbow franziu a testa, desconfiado. "Que projeto?"
"Um sistema. Você, meu amigo, será reencarnado como um Sistema. Você não terá um corpo, mas será a consciência que habitará um sistema de poder para um herói. Vai guiar, ajudar e fortalecer a pessoa que você escolher para se tornar o portador desse poder."
A mente de Rainbow, que já havia processado a morte e a presença de Deus, agora lutava para entender a nova informação. "Espera, eu vou virar um... aplicativo? Um guia de jogo? Isso é uma loucura! Você não pode testar isso com outra pessoa?"
"Rainbow," Deus disse, a voz ficando mais séria. "Você manterá suas memórias e sua personalidade. O seu nome será seu, e a tela do sistema será um caleidoscópio de cores que refletem a sua essência. Você será impedido de revelar que reencarnou, mas pode dizer que é uma entidade divina em busca de um portador digno."
A curiosidade de Rainbow começou a superar seu pânico. "E os poderes? Como eu escolho?"
"Você só pode ter três ramificações de poderes para conceder ao seu portador," Deus explicou. "Escolha com sabedoria, pois a sua escolha aqui é definitiva."
Os olhos de Rainbow se arregalaram. Três ramificações? Com as memórias de sua vida como um otaku e gamer, a mente dele começou a trabalhar a mil.
"Eu quero que a primeira ramificação seja os poderes e armas do Valorant. A segunda, quero os 19 Miraculous e o Grimório dos Miraculous de Ladybug e Cat Noir. E a terceira," ele disse, animado, "eu quero os poderes de Avatar: A Lenda de Aang e Korra, com todos os elementos e sub-elementos!"
Deus sorriu, o divertimento de volta em seus olhos. "Uma combinação interessante. A tecnologia dos Radiantes, a magia dos Miraculous e a manipulação elementar dos dobradores. Um coquetel de poder que poderia moldar um novo tipo de herói. Mas lembre-se: você estará ligado a essa pessoa até o fim da vida dela. Escolha com cuidado."
"Não se preocupe," Rainbow respondeu, com um sorriso confiante. "Já tenho a pessoa perfeita em mente."
Uma luz branca e ofuscante engoliu Rainbow, e ele sentiu como se estivesse sendo desfeito e refeito ao mesmo tempo, transformando-se em algo novo, em algo... que não era mais um corpo.
Quando a visão retornou, a primeira coisa que Rainbow notou foi que ele não tinha corpo. Ele era uma consciência flutuante, um espírito. Abaixo dele, uma cidade pulsava com vida. Pessoas andavam com caudas de coelho, asas de morcego e até com braços que pareciam rochas. Ele viu a silhueta de um vilão e, à distância, a forma imponente de um herói que parecia uma versão cartunesca de um boneco.
"Não pode ser..." ele sussurrou para si mesmo, reconhecendo a cidade, a arquitetura e o estilo de vida. "Eu estou em My Hero Academia."
A missão de Rainbow agora era clara. Ele tinha que encontrar Izuku Midoriya. A busca não foi longa. Em um sobrevoo rápido, ele viu a residência Midoriya e uma mulher com cabelos verdes adentrando a casa.
Ele atravessou a parede, uma sensação estranha e etérea, e encontrou o garoto de dez anos, Izuku, sentado à mesa, comendo. Ele parecia quieto e pensativo, talvez lutando contra os próprios demônios internos que o mundo havia criado.
"Cheguei uns cinco anos antes dos eventos. Perfeito," ele pensou.
Izuku subiu para seu quarto depois de comer, e assim que ele estava prestes a deitar, uma tela holográfica se materializou na frente dele. A tela irradiava cores, mudando de um tom para outro, como um caleidoscópio, uma paleta de cores de esmaltes e tintas que Izuku nunca tinha visto antes.
{Sistema sincronizado com a alma do anfitrião}
Izuku piscou, esfregando os olhos e beliscando a própria bochecha. Não era uma alucinação.
{Não sou uma alucinação. Sou um sistema que viajou entre muitos universos e que sabe de muitos heróis. Fui designado para encontrar uma alma jovem e nobre, para que pudesse obter poderes de três mundos distintos.}
"Então... você não está aqui por mim?" Izuku perguntou, a voz fraca e o coração apertado. "Eu não tenho uma Individualidade. Não sou nobre o suficiente."
{Pare de se deprimir. É terrível. E, segundo, na minha percepção, uma alma nobre não é aquela que já tem o poder. É aquela que respeita o poder. Alguém que é fraco e quer ser forte para ajudar os outros, para mim, é a única opção.}
A tela mudou, mostrando a Izuku imagens de Valorant, de Miraculous e dos mestres elementares de Avatar. A tela de caleidoscópio pulsava com vida, esperando. O sistema explicou as três ramificações, e por um momento, Izuku esqueceu de respirar.
"Um... um pacote de iniciante?" Izuku gaguejou, lembrando-se de um jogo que havia jogado. "O sistema tem um pacote de iniciante?"
{Sim, tem, mas você só poderá abrir amanhã de manhã. Já está tarde da noite.}
A tela então se desmaterializou, deixando um Izuku chocado e com o coração batendo a mil. Ele não sabia o que era aquilo, mas pela primeira vez em sua vida, a palavra "herói" não parecia um sonho distante.